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quarta-feira, 17 de junho de 2020

ANDEBOL - Na hora da saída, Carlos Santana, é frontal - O Município inviabilizou um projeto estruturante e central para o clube e para a cidade

Carlos Santana , que na última década coordenou o andebol almadense e o Torneio Internacional 


O Andebol do Almada Atlético Clube, está em foco, já que o mesmo para além de ter vencido  a zona sul, do Campeonato Nacional da 2ª divisão, garantiu a presença na final four para apuramento para o Campeonato Nacional da 1ª Divisão , conjuntamente com as formações  do Povoa Andebol Clube, AD Sanjoanense e Almada Atlético Clube/Externato Gil Eanes,que no inicio da época 2020/2021, em pavilhão neutro vão discutir os dois primeiros lugares que  dão acesso ao escalão maior do andebol nacional.


Noticias Desporto Almada, ao saber da saída do vice -presidente das atividades amadores do clube, Carlos Santana que tinha a seu cargo o pelouro do andebol do Almada Atlético Clube e que no final desta época, anunciou a sua saída do clube,fomos ouvir o homem que nos últimos 8 anos assumiu a responsabilidade de coordenador de todo o andebol almadense e que consequentemente,continuou com o legado do saudoso Humberto Borges, de organizar o Torneio Internacional de Andebol do Almada.


Muitas vezes a sua frontalidade como encarava os vários problemas respeitantes ao clube e sempre na defesa do mesmo, não evitava de criticar ao poder autarca, sobre o projecto que no seu entender seria uma tábua de salvação para que a coletividade pudesse encarar o futuro com mais otimismo

 


- Quem é Carlos Santana ?


- "É sempre difícil responder a essa questão. A verdade é que assumimos várias personagens ao longo da nossa vida. Como seres sociais que somos representamos vários papeis. Variando esses papeis em função do contexto, do momento e das funções sociais que exercemos. Contudo, gosto de pensar que acima de tudo sou boa pessoa. Sei que tenho um temperamento que nem sempre é fácil. Sei que a imagem que transmito não é simpática. Mas também sei que quem me conhece e me é mais próximo tem uma opinião positiva sobre mim enquanto ser humano".

 

 

- Sabemos que seu filho como na altura atleta do Almada, na modalidade de Andebol, acabou por ser o responsável da sua vinda para o andebol do clube. O que nos tem a dizer?

 

-"Sim, é verdade. Costumo dizer que o responsável por esta aventura que começou há aproximadamente 8 anos é da responsabilidade do meu filho.

 

Até 2008 nunca tinha entrado no pavilhão Adelino Moura. Entrei porque o meu filho me disse que queria jogar andebol no Almada AC.

 

Depois até chegar a dirigente foi consequência do que se foi passando, da paixão que ganhei à modalidade e à secção de Andebol do clube".

 

 - Como apareceu o convite para integrar a estrutura do Andebol do Almada?

 

- "Em 2012 fui desafiado pelo Sr. Fernando Mendes para colaborar com a secção de andebol. Viviam-se tempos muito conturbados e não pude dizer que não a quem me convidou e ao próprio clube. A partir daí as coisas precipitaram-se e pouco tempo depois assumi a Vice-Presidência com a tutela do andebol".

 

-  Foi fácil esse percurso como responsável pelo Andebol do clube?

 

-"Nunca tinha exercido funções de dirigente desportivo. Ficamos sempre reticentes quando abraçamos um projeto e quando temos consciência que estamos a pisar um território desconhecido.

 

O facto de não pertencer à “tribo do andebol” complicou as coisas. Não era do meio. Não conhecia ninguém. Nem mesmo as figuras históricas do clube. Ao princípio sentia-me algo desconfortável com essa situação. Os clubes também têm os seus Barões que consideram negativo o contributo de quem não pertence à mesma linhagem.

 

Tive o apoio direto do Sr. Fernando Mendes o que foi importante para os primeiros tempos de adaptação.

 

Depois é como tudo. O tempo, a dedicação e o trabalho resolvem os problemas.

 

O maior problema foi sem dúvida o facto de ter que lidar com muitos problemas financeiros. Dividas que não se sabia muito bem de onde vinham, penhoras, ameaças de corte de fornecimento de eletricidade. Enfim, quase todas as semanas havia novidades. Infelizmente por vezes ainda aparecem alguns fantasmas do passado a assombrar quem está na direção".

 


"O mais enriquecedores é sem dúvida perceber que há pessoas que se dedicam a causas sem qualquer tipo de compensação financeira"




A formação de seniores de andebol que na última jornada da 1ª fase do nacional da 2ª divisão, garantiu
o primeiro lugar,face ao triunfo alcançado na Madeira, diante do Maritimo Madeira e assim garantiu o passaporte para disputar o acesso à 1ª Divisão.



-  Momentos a reter como responsável do Andebol?

 

- "Apesar dos problemas diários, a verdade é que o saldo é muito positivo. Foi uma experiência extremamente enriquecedora.

 

Do ponto de vista desportivo tivemos muitos momentos positivos, tais como a ascensão das nossas equipas de Juvenis e Juniores à primeira divisão nacional, a subida dos seniores por duas vezes à segunda divisão nacional, a participação dos iniciados em fases intermédias do campeonato nacional, a participação dos infantis em fases finais, algumas excelentes edições do Torneio Cidade de Almada em Andebol, em particular a 33ª por ter sido a primeira que eu e a minha equipa realizamos.

 

Também houve momentos negativos. Uma má experiência no retomar da equipa sénior feminina, a descida da equipa de Juniores á Segunda Divisão Nacional. A descida da equipa sénior à terceira divisão depois de termos conseguido permanecer no segundo escalão durante duas épocas e uma menor qualidade competitiva das últimas edições do torneio.

 

Esta época apesar de termos conseguido excelentes resultados desportivos, com destaque para a equipa sénior, não pode ser considerada positiva por ter terminado pelos motivos que todos conhecemos.

 

O momento mais negativo foi sem dúvida o falecimento trágico e inesperado de um dos nossos treinadores.  

 

Um dos aspetos mais enriquecedores é sem dúvida perceber que há pessoas que se dedicam a causas sem qualquer tipo de compensação financeira. Por isso tenho que agradecer a todos os que comigo trabalharam na secção de andebol do Almada AC.

 

Finalmente, importa referir que quem se mete nestas andanças tem que ter muito jogo de cintura, muita resiliência e perceber que a sua vida será completamente alterada em função dos compromissos assumidos".

 

 

- Acabou também por ser um dos responsáveis pela continuação do Torneio Internacional de Andebol do Almada Atlético Clube.?

 

- "A minha primeira preocupação quando assumi o andebol do clube foi garantir que o torneio iria ter continuidade.

 

Era para mim impensável que o esforço de dirigentes como o Humberto Borges fosse hipotecado.

 

Com muito esforço e alguma loucura conseguimos realizar a 33ª edição do torneio. Alteramos a estrutura e o calendário. Alargamos a participação a todos os escalões de formação e conseguimos ter em Almada 35 equipas.

 

Depois conseguimos ininterruptamente realizar mais 6 edições com alterações em termos de estrutura e ajustes no calendário. Espero que em breve se realize a 40ª edição.

 

O torneio é património municipal e como tal tem que ser acarinhado por todos".

 

 

 


- Ao longo de uma década no comando do Andebol almadense, quer destacar algum momento em especial?

 

- "Como já referi foram muitos os momentos bons.

 

Julgo que destacaria a organização da 33ª edição do Torneio Cidade de Almada em Andebol.

 

Foi uma autêntica loucura. Não tínhamos dinheiro. Gastámos o que tínhamos € 60 e o que não tínhamos, alguns milhares. Fizemos o torneio e não ficámos a dever nada a ninguém.

 

A uma semana do início do torneio não tínhamos equipas inscritas. A verdade é que acabaram por participar 35.

 

Eramos muito poucos. Tínhamos que garantir a logística em 4 pavilhões. Tínhamos várias equipas alojadas na Escola Emídio Navarro a que tínhamos que assegurar transporte e apoio no que fosse necessário. Utilizámos as nossas viaturas particulares para transportar as equipas. Foi uma autêntica aventura. Quatro dias sem dormir. Mas foi muito bom. Ganhei uma equipa de dirigentes e treinadores e muita experiência para o futuro".

 



- Vai sair do Andebol do Almada, num momento importante para as aspirações do clube, o qual vai participar na liguilha de acesso à primeira divisão. O que nos tem a dizer?

 

- "Já sai do clube. Sai de consciência tranquila e com a certeza que tudo fiz para que o andebol no Almada AC continue a ser uma realidade.

 

Gostava de ter saído em condições normais. A pandemia acelerou o processo.

 

Desejo tudo de bom a todas as equipas de andebol do clube. Contudo, não posso deixar de sublinhar a excelente campanha que a equipa sénior realizou na presente época. Tínhamos acabado de chegar á Segunda Divisão. Vencer a nossa série e sermos apurados para a fase final foi excelente.

 

A decisão de participação da equipa sénior na Liguilha não foi tomada por mim. Por isso não a quero comentar. A direção e a equipa sabem a minha opinião sobre esta matéria".

 


"O Município inviabilizou um projeto estruturante e central para o clube e para a cidade. 


Hipotecou o futuro de uma das instituições que mais visibilidade dá a Almada. Foi irresponsável, desleal e 

profundamente injusto".




Carlos Santana, aqui acompanhado por, Ricardo Louçã,presidente   da União das Freguesias de Almada,Pragal,Cacilhas e Cova da Piedade.

União de freguesias que tem prestado apoio ao Torneio Internacional do Almada




-  Acha - se uma voz incomoda dentro do Almada A C, ou uma voz incomoda para o poder autarca, face às suas posições públicas, face aos critérios de apoios por parte da Câmara?

 

- "Se sou uma voz incomoda dentro do Almada AC terão que ser os elementos da direção e dos demais corpos gerentes a dizer. Sou sem dúvida uma voz critica. Mas essa é a minha maneira de ser, no andebol e noutras dimensões da nossa vida social. Ser critico é tentar encontrar os melhores caminhos para a resolução de problemas.

 

Quanto ao município julgo que é conhecida a minha posição. O atual governo da cidade é um obstáculo ao desenvolvimento do movimento associativo e em particular do desporto.

 

O Município inviabilizou um projeto estruturante e central para o clube e para a cidade. Hipotecou o futuro de uma das instituições que mais visibilidade dá a Almada. Foi irresponsável, desleal e profundamente injusto.

 

Mas as minhas críticas não são apenas a este executivo. Almada há muito que não tem uma política de desenvolvimento desportivo. A CMA não sabe o que quer dos clubes e os clubes não sabem o que podem esperar do seu município.

 

É para mim completamente incompreensível como é que um dos concelhos mais populosos e desenvolvidos do país não tem uma equipa sénior de desportos coletivos na primeira divisão nacional.

 

Uma das imagens do projecto


Os apoios camarários são ridículos. O apoio à formação, designado por “Escolinhas de Desporto”, atribui aos clubes € 20 anuais por cada atleta com idade até aos 12 anos. Isto é apoio ao desporto?

 

É verdade que existem outros apoios a que os clubes se podem candidatar; para aquisição de viaturas, obras, organização de eventos. Mas para o mais importante não há. O mais importante é apoio para a atividade desportiva em concreto; pagamentos de inscrições, seguros desportivos, apoio para pagamento a treinadores, etc. Para essas despesas não há qualquer tipo de comparticipação financeira.

 

A CMA deveria igualmente ser um interlocutor importante junto das escolas para dinamização do desporto escolar e para facilitar a intervenção dos clubes em meio escolar. Mas pouco ou nada é feito.

 

Veja-se o exemplo de outros municípios e perceba-se que há vários modelos de apoio ao desporto que podem ser adotados em Almada".


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"Espero que o Almada AC continue a acarinhar a modalidade que mais projeção dá ao clube e que perceba que a formação de novos andebolistas é e deverá continuar a ser a sua principal missão".

 

 

-  A sua saída é irreversível?

 

- "A minha saída é um facto. Se posso voltar? Estou sempre disponível para ajudar o andebol do Almada AC. Não volto apenas voltar. Seria algo que teria que ser ponderado e suportado por um projeto com o qual me identificasse. Projeto que teria que ter a formação como pedra de toque".

 


- Ao longo desses anos à frente do andebol, sai com o dever cumprido, mas decerto com algumas mágoas. O que nos tem a dizer, para além de uma mensagem final, para os atletas e para com aqueles que mais diretamente trabalharam consigo.

 

- "As mágoas prendem-se essencialmente com o faco de não ter conseguido uma maior estabilidade financeira da secção de andebol. Os problemas persistem e é necessário ter consciência disso.

 

A minha maior mágoa é não ter podido ver, pelos motivos que já referi, a concretização de um projeto que seria um garante da continuidade do clube e da sua sustentabilidade desportiva, infraestrutural e financeira.

 

Para finalizar quero agradecer publicamente a todos os que me acompanharam nesta aventura e que tonaram possível fazer o muito que realizámos.

 

O meu obrigado a todos os Dirigentes, em particular à Carmen Meneses, ao Paulo Gomes, ao Moura da Costa, ao António Salavessa e ao Miguel Melo, aos treinadores, com destaque para o Pedro Coelho que já estava no Almada AC quando eu cheguei e que foi treinador do meu filho, a todos os atletas, pais e encarregados de educação.

 

Um cumprimento especial ao Sr. Fernando Mendes pelo exemplo que transmite aos mais jovem e pelo seu passado enquanto atleta e dirigente.

 

Espero que o Almada AC continue a acarinhar a modalidade que mais projeção dá ao clube e que perceba que a formação de novos andebolistas é e deverá continuar a ser a sua principal missão.

 

Quanto aos atletas desejo tudo de bom e que continuem a ter orgulho no emblema que trazem ao peito".



Esta a entrevista  possível com o dirigente ex-vice presidente, Carlos Santana, que na hora da saída, não esqueceu todos aqueles , que com ele trabalharam em prol do Almada Atlético Clube e uma vez mais  não foi parco em palavras sobre o poder autarca do concelho de Almada e a visão do mesmo em relação ao desporto





Quem é Carlos Santana


Idade: 54 anos


Natural de Almada


Casado: 1 filho


Licenciado e Mestre em Sociologia.


Técnico Superior do Instituto do Emprego e Formação Profissional.


  Professor Universitário, convidado


Fotografo amador de andebol


Essa outra imagem do projecto que o Almada Atlético Clube, quer edificar no compelxo Desportivo do Pragal, a que o nosso entrevistado se referiu



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