Cumprindo uma tradição dos últimos anos, o CNID – Associação dos Jornalistas de Desporto assinala simbolicamente o início de uma nova época desportiva quando começa a temporada do futebol profissional. Em 2022-23 é neste sábado, com a disputa da Supertaça Cândido de Oliveira, troféu que justamente presta homenagem a um nome grande do Jornalismo e, sobretudo, a um nome grande do desporto e do futebol.
Os Jornalistas gostariam que a época decorresse sob o signo do respeito e da lealdade nas diversas competições. Há quem peça paz, mas no desporto, felizmente, não existe a paz dos cemitérios. O desporto competitivo também é debate, também é diferença de pontos de vista, também é aceitar tradições diferentes, até porque felizmente acolhemos com prazer tantos estrangeiros que vêm melhorar as performances das equipas, seja como atletas ou treinadores. O Portugal desportivo é, sublinhe-se, um sítio onde a inclusão se faz naturalmente. Com problemas, às vezes, com erros, tantas vezes, mas onde cada um consegue exprimir a sua diversidade no campo.
Os Jornalistas fazem também um apelo aos atletas, aos treinadores e sobretudo aos dirigentes, para compreenderem o seu trabalho. Que é cada vez mais dificultado em nome de um controlo espúrio da informação. Chegámos a um ponto em que os clubes fecharam tanto quanto puderam a informação e nunca houve tanto escândalo nas páginas dos jornais ou nas ondas da rádio ou das televisões. Vale a pena isolar tanto os atletas e os treinadores dos Jornalistas, ou isso será apenas uma forma de tentar esconder fragilidades? Portugal é hoje talvez o pior país, do mundo livre, no controlo do pensamento e da palavra de atletas e treinadores. É difícil encontrar outro país em que seja mais difícil ter um atleta ou treinador num estúdio de tv ou rádio ou num encontro cara a cara com um jornalista. Vale a pena? Com medo de quê?
E alguns acharão que isto só se aplica aos grandes clubes. Também não é verdade, infelizmente.
Este afastamento é responsável por uma parte das grandes dificuldades por que passam o Jornalismo e os Jornalistas, inegavelmente. Alguns gostariam que a informação fosse dada apenas pelos canais dos próprios clubes. Seria um mundo cor-de-rosa em que as derrotas seriam sempre por causa dos árbitros. Mas o mundo não é assim.
O nosso apelo é que seja possível uma coexistência pacífica, em que todos tenham o seu espaço.
Valorizar o Jornalismo, desportivo no caso, passa por valorizar o encontro entre as partes que fazem o desporto. O Jornalismo não quer a polémica estéril e degradante, mas não se furta ao confronto de ideias, valoriza o ponto de vista novo com sentido, sublinha e exalta as personalidades que se vão afirmando. É um caminho de pedras, mas é o único que garante que o Jornalismo ajuda o desporto.
A todos o CNID deseja uma boa época.
P’la direção
Manuel Queiroz
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